quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ninguém está imune aos erros. Nem mesmo os políticos importantes e poderosos

Por ser uma pessoa pública, o político,

sobretudo o governante, deve estar

atento ao fato de que os erros que

pratica, adquirem uma dimensão muito

maior do que no caso de pessoas comuns

Mesmo os políticos mais importantes, experientes e poderosos, cometem erros que, apesar de pequenos, possuem conseqüências desastrosas. Sua experiência, autodisciplina e conhecimento são derrotados, nestes casos, por sentimentos tão comuns como a vaidade, ambição, arrogância, ódio, e outros de natureza semelhante que atingem qualquer mortal. Ocorre que o político, sobretudo o governante, não é qualquer mortal. É uma pessoa pública, e, como tal, os erros que pratica, adquirem uma dimensão muito maior do que no caso de pessoas comuns.

Guerra do Iraque trouxe prejuízos políticos a George W. Bush

Os erros de maiores conseqüências ocorrem em situações de conflito, quando o julgamento fica comprometido pelas emoções, o adversário usa todas as suas armas para derrotar-nos, e as decisões precisam ser tomadas rapidamente, num contexto de informações insuficientes, de incertezas e riscos. Ora, por razões como estas, a relação de conflito na política é a mais incerta de todas as interações. Sabe-se como se entra num conflito, mas é muito difícil saber-se como se sai dele.

Relações de conflito - eleitorais, partidárias, entre grupos sociais, e até guerras - devem ser encaradas com extremo cuidado. Como regra, deve-se refletir muito antes de entrar nelas, avaliar custos e conseqüências em relação aos benefícios trazidos pela eventual vitória, probabilidade de vencer, recursos necessários, e sua disponibilidade, estratégias, entre outras questões. Se, após toda esta reflexão, a decisão for entrar no conflito, então se entra "com tudo". Entra-se para ganhar da maneira mais cabal possível e dentro do menor prazo de tempo.

É sobremaneira decisivo planejar a forma de concluir e sair do conflito, após a vitória. A clássica frase de Pirro é uma advertência perene a todos os que entram num conflito: "Mais uma vitória como esta e estaremos perdidos".

Vitória de Pirro tornou-se aquela na qual as perdas exigidas para vencer, enfraquecem ao invés de fortalecer o vencedor. O objetivo será sempre o de sair do conflito em melhores condições do que aquelas com as quais se entrou. Isto não significa apenas sair vitorioso e conquistar o objetivo, mas, por igual, sair com uma imagem positiva.

O conflito político é sempre público. A opinião pública o acompanha e julga os contendores. Luta-se para conquistar o objetivo, mas luta-se também para conquistar a opinião pública. Para atingir o objetivo de uma vitória cabal, rápida, e aceita pela opinião pública, é fundamental vencer a primeira batalha: "Definir conceitualmente o conflito de maneira a manter opções em aberto para conclui-lo, quando conveniente" .

Um exemplo de erros cometidos por políticos importantes e poderosos nesta questão, foi dado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Há um erro, em especial, em relação ao qual ele parece ter uma nítida propensão: A maneira radical de definição do conflito e a sua personalização, deixando a si mesmo, e a seu inimigo, sem nenhuma alternativa para concluí-lo pela negociação. Usando a guerra do Iraque como exemplo, podemos identificar os dois conceitos que os adversários propõem para definir o conflito que travam.
Do lado americano e britânico, a guerra foi apresentada como destinada a desarmar o regime iraquiano das armas de destruição em massa, derrubar o regime tirânico de Saddam Hussein, punir o ditador e seus homens de confiança, e reconstruir um Iraque democrático.


Ao personalizar o conflito, Bush deu a Saddam o tamanho do presidente dos Estados Unidos

Do lado iraquiano, a guerra foi apresentada como uma agressão americana e britânica contra o país e seu povo, como uma tentativa de implantar um neocolonialismo - com o objetivo de se apossar das jazidas petrolíferas do Iraque - como um ato de racismo e de hostilidade ao islamismo, e, como a imposição do poder americano sobre o mundo árabe e sobre o mundo em geral.

O ex-presidente Bush, ao mudar os objetivos da guerra - de uma ação destinada a desarmar o Iraque das armas de destruição em massa, para a de derrubar o regime, eliminar Saddam, seus filhos e sua "entourage", ocupar militar, política e economicamente o Iraque após a vitória - definiu o conflito de forma tão radical, que o colocou em confronto não apenas com o Iraque, mas com todo o mundo árabe, e inclusive com seus tradicionais aliados. O mundo passou a temer os EUA. Quem será o próximo país a ser atacado?

A teoria da guerra preventiva - que revoga o princípio da autodeterminação dos povos e o do respeito à soberania nacional - com a qual Bush conceituou a guerra; a frase tantas vezes repetida "quem não está conosco está contra nós"; expressões como "tentativa de decapitar o regime", "Bin Laden vivo ou morto"; tiveram como resultado: a desmoralização da ONU, a exacerbação do ódio dos povos árabes, a retomada das políticas armamentistas, a alienação dos aliados tradicionais, a insegurança internacional e a desconfiança com relação ao governo americano.

Esta forma de conceituar a guerra, livremente escolhida pelos governantes americanos, foi ainda agravada pela sua personalização. Ao fixar como objetivo não negociável a derrubada do regime e a liquidação física de Saddam Hussein, seus filhos e sua "entourage", (como Bush já havia feito em relação a Bin Laden), não deixou outra alternativa a Saddam a não ser usar todos os recursos militares possíveis para reagir ao ataque.

Ao personalizar o conflito "Bush x Saddam" Bush deu a Saddam o tamanho do presidente dos Estados Unidos. Com isso, Saddam se transformou em um líder árabe que conseguiu transcender os limites de seu país. Saddam e sua luta passaram a representar a luta do povo árabe contra os opressores. O Iraque não venceu os países da coalizão na guerra, mas ganhou a batalha da opinião pública.

Cronologia da Guerra do Iraque


A Guerra do Iraque começou em 20 de março de 2003, quando houve o primeiro bombardeio sobre Bagdá

A Guerra do Iraque começou em 20 de março de 2003, quando houve o primeiro bombardeio sobre Bagdá com mísseis Tomahawk com o objetivo de tentar matar Saddam Hussein. Em pouco mais de dois meses, o exército iraquiano foi derrotado. No dia 1º de maio, em um discurso pronunciado no porta-aviões Abraham Lincoln, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou o final das operações militares de envergadura no Iraque.

No dia 22 de maio, a ONU adotou a resolução 1483, que acabou com as sanções contra o Iraque, legitimou a presença da Autoridade Provisória da Coalizão, comandada pelos EUA, no governo do país e dá à entidade um papel limitado na reconstrução. Em dezembro, Saddam Hussein foi capturado, escondido em um buraco, próximo a sua cidade natal, Tikrit.

Apesar da onda de violência continuar no páis foram realizadas eleições em 30 de janeiro de 2005. Os grupos xiitas iraquianos saíram vencedores nas eleições. A coalizão Aliança Iraquiana Unida obteve 47,6% ou cerca de 4 milhões dos votos no pleito.

Depois de um longo julgamento, Saddam Hussein foi condenado a morrer na forca por crimes contra a humanidade. O ex-ditador do Iraque foi acusado de ter responsabilidade no massacre, nos anos 80, de 148 camponeses xiitas. Saddam foi executado na forca, no dia 30 de dezembro de 2006, em um dos antigos centros de tortura em Bagdá, quase quatro anos depois de ter sido derrubado pelos Estados Unidos.


Francisco Ferraz

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